Saulo e Paulo

Saulo acorda atrasado, a insônia causada pela ansiedade o torturou noite passada.
Levanta-se com pressa, e engole o seu café da manhã.
Sai sem dar bom dia àquela que dorme ao seu lado.
Corre e quase perde o metrô.
Suspira desanimado olhando as notícias de política no celular.
Chega a tempo no trabalho que até gosta, mas não entende para o quê trabalha.
Termina o expediente no escritório, pega sua jaqueta de couro e desce o elevador.
Olhando para fora, nota a tempestade caindo.
Amaldiçoa a si mesmo por esquecer o guarda-chuva.
Sobram xingamentos para a tempestade… e ao Criador dela.
Caminha em meio às pessoas na calçada, tentando afastar a água.
Volta para casa e evita conversas com aquela que já nem pergunta mais o seu dia.
Sabe que não há nada de bom.
Saulo toma um banho, assiste o noticiário na televisão e logo vai deitar-se.

Paulo acordou no mesmo horário de Saulo, atrasado também, mas descansado.
Levantou-se com pressa e preparou o café da manhã de sua esposa.
Deu um beijo na testa da companheira e depois pegou um pão com a boca, enquanto buscava suas chaves.
Perdeu um ônibus, mas sabe que pode compensar dez minutos a mais no trabalho.
Olha as notícias rapidamente no celular para se inteirar e logo tira um livro da mochila.
Chega em seu trabalho. Saber que está ali para ter a chance de viajar o mundo ao lado da esposa é como um combustível inacabável.
Termina o expediente e, ao ver a tempestade, percebe que esqueceu a jaqueta e o guarda-chuva.
Sorri para si mesmo ao perceber que vai tomar um “eu te avisei ontem que choveria” da sua mulher.
Corre com as mãos sobre a cabeça para chegar ao ponto de ônibus, onde comenta com o cobrador “Ufa, finalmente... achei que não se derramaria mais uma gota d’agua nesta cidade, graças a Deus estava errado”.
Chegando em casa, ouve o que já esperava, mas recebe um copo de chá quente e conta como foi seu dia.
Paulo toma um banho e parte para uma maratona esperada de séries com a melhor amiga a quem disse “sim” no altar.
Ele olha pela janela e vê que a chuva continua, mas sabe que a tempestade apenas está lá fora. Em seu coração há calmaria, deixa os trovões para fora de si. Abraça sua mulher e adormece.

Texto e arte por Alan Klein

Comentários

Postagens mais visitadas