História de Pescador

Fui visitar a praia hoje cedo. Estou de férias, então pode parecer loucura o que estou prestes a dizer, mas me levantei às 6h00 da manhã. Mesmo com o céu cinza escuro e com o cabelo ainda bagunçado, levanto da cama e saio para comprar pão para a mulher que dorme e aquece os meus cobertores. A cabana fica perto da costa, por isso aproveito para ir pela areia ao invés da calçada. Vou descalço… gosto de sentir a areia entre os pés. Compro o pão e, na volta, reparo em algo que deixei passar. De longe avisto um barco balançando, como se as ondas o estivessem ninando. Dois pescadores, virados de costas um para o outro, seguram varas, imóveis. Lembro do meu avô, saindo de madrugada para pescar. “É preciso ficar em silêncio, para não assustar os peixes”, dizia ele. Lembrando agora, penso em como hoje eu não teria paciência para ficar imóvel, sem nada dizer, apenas eu e meus pensamentos. Logo, noto como isso se aplica a tudo em minha geração: não conseguimos parar por um segundo para nada. Tudo queremos para ontem, queremos que o peixe pule dentro do bote ao invés de esperar que ele morda a isca. A nossa comida é feita em 5 minutos – e ainda achamos ruim ter que aguardar pelos trezentos segundos; dormimos pouco por não conseguir nos contentar com o bom trabalho feito em um dia e querer adiantar tudo o que não é necessário ser adiantado; temos relacionamentos quebrados por não ter a paciência de compreender o outro e pensar que é perda de tempo “se enrolar”. O tempo vai passar de qualquer forma, então por que viver apreensivo pelo que irá acontecer de qualquer maneira? Sigo o meu caminho até a minha cabana para contar a minha amada que, quem sabe, as histórias de pescadores não sejam ruins.

Por Alan Klein

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