Cola e fita adesiva

Eu, como toda criança, sou levado.
Meu Pai é um bom escultor, o melhor que eu conheço. Cada obra sua tem vida, inclusive esta que vos fala. Ele tem um talento particular com obras de barro e, em sua grande vontade de mostrar o quanto me ama, fez um belo copo para mim. “Guarde-o… encha-o com coisas que realmente sejam importantes”. Eu fiquei fascinado, era o copo mais lindo que eu já vira. Leve como o ar, brilhava ondulante como o mar refletindo o sol. Sendo grande, tinha espaço para muitas coisas. Logo, levei para a rua, queria mostrar aos meus amigos. Obviamente eles se interessaram pelo copo, mas não pela beleza dele, e sim por ser prático para guardar o que eles queriam. Em apenas um dia, estava cheio de coisas que não eram minhas. Agora, cheio e com dificuldade de carregá-lo, tropecei e o deixei cair. A invenção mais bonita que meu Pai me dera se estilhaçou. Comecei a chorar: havia cartinhas, bolinhas de gude, colas de prova, doces, mas nada meu. Ignorando as tralhas, tentei concertar com fitas e colas, mas nada resolvia. Eu tive vergonha… “meu Pai não pode ver o que eu fiz”. E escondi o copo. Mas Ele me conhece e sempre sabe quando não estou bem. Ajoelhado a minha frente, olhando em meus olhos, perguntou onde estava o copo. Levei-o até o meu quarto e apontei, debaixo da cama, onde ninguém podia ver. Ele, calmo e ao mesmo tempo sério, disse para eu pegar e entregar os cacos. Assim eu fiz. Acompanhei-o até sua oficina e, pasmo, o vi quebrando ainda mais o meu copo. Queria dizer que parasse, que ia estragar mais, mas não o fiz. Ele triturou tudo, até sobrar só o pó. Repentinamente, com Água, Ele começou a fazer um novo copo. O colocou no Fogo para secar e o pintou. Houve momentos em que o trabalho pareceu uma eternidade, outros, em segundos. Quando dei por mim, eu tinha um novo copo, mais forte e bonito. Eu abracei meu Pai, por ter me perdoado e por ter me dado algo novo. Antes de me entregar Ele me disse: “o que realmente é importante?”. Eu, olhei para o copo e para Ele. Respondi: “Você”. Devolvi o copo, não queria que fosse meu… O entreguei a Ele. Meu Pai o guarda para mim em segurança… sabe o que eu preciso.

Por Alan Klein

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