Eudoxio & Georgina

É fácil ver o medo, se prestar atenção. Do outro lado dos sorrisos escondidos atrás de copos cheios de álcool, há pessoas que desistiram de amar. Gabam-se do desapego aos quatro ventos, mas choram de solidão quando acordam sóbrias no outro dia, sob a dor de uma ressaca. Quando se vive num mundo assim, desacreditar no amor é algo quase contagioso. Quase descrendo, abri a porta correta em tempo e vi duas mãos entrelaçadas, contendo mais de cinquenta anos de histórias sobre conquistas, lutas, brigas, reconciliações, filhos e netos. Se agora escrevo esta carta é porque aqueles dois, sentados no sofá assistindo uma novela, não desistiram. Seguiram, encararam a vida e, quando todos os defeitos vieram a tona, tomaram a decisão de permanecer e olhar para o que os unira, segurando isso com todas as forças. Aquelas mãos juntas me disseram que Deus nunca esquece as orações mais sinceras, especialmente aquelas que gritam com medo da solidão. Siga em frente, espere, peça aos céus. O amor é real. Um dia verás seu neto abrir a porta do seu quarto e te ver abraçada com aquele a quem você disse "sim" há tantos anos que perdestes as contas, mas que nunca a abandonou... e que jamais o fará.

Por @alan_kdsg numa homenagem aos seus avós.

5 DE FEVEREIRO DE 2018

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